O que acontece quando a máquina fica inteligente mas a gente não?
imagens: midjourney
Resumo:
Como funcionam as Inteligências Artificais.
Perguntar as coisas para uma IA é como fazer batucadas em um violão.
A beleza das IAs na criação de imagens.
O impacto das Inteligências Artificais na burrice humana.
Um dia foi o Dicionário. Depois o Google. Agora é o Chat GPT.
Vamos combinar, o mundo é complicado e uma mãozinha pra saber das coisas sempre caiu bem.
Mas o Dicionário só registrava a informação.
O Google começou a decidir qual informação era ideal pra você - o que foi bom mas deu ruim.
Agora a Inteliência CRIA a infromação para (ou por) você. O que pode ser traduzido como:
"CARACA, que INCRÍVEL!!!" e "Ih! F#deu..."
Tudo ao mesmo tempo.
Como funcionam as Inteligências Artificiais
Inteligências artificiais são programas capazes de aprender, como você - ou bem melhor do que você, na verdade.
Como os algoritmos das redes sociais, elas leem nosso comportamento, identificam padrões e produzem respostas com isso. Essas respostas podem ser uma receita de bolo, um código de programação avançada ou uma poesia. O aspecto “game changer” da parada é que ela lê e aprende numa fração de segundo, que nem o Neo do Matrix: “Eu vou aprender JIU JITSU!?” 😱🤯
Estas inteligências já existem há mais de 15 anos. O algoritmo das redes sociais aprendem a te manter ligado, conseguindo assim te mostrar mais anúncios. Mas o Chat GPT ganhou o carinho do público graças a um programinha chamado Transformer (sim, que nem Autobots e Descepticons).
Com este programa a IA pode medir o peso das palavras no contexto das conversas. Assim, ao invés de uma da tradução mecânica do Inglês - como o Google Translator fazia até então - ela tornou-se capaz de compreender a frase e traduzir o contexto para o português e seus “dialetos” do sertão nordestino, da favela carioca ou dos engravatados na Faria Lima.
Isso é FASCINANTE.
Um Violão pra fazer Batuque
A maioria das pessoas ainda usa o Chat GPT pra responder perguntas, como faz com o Google. Isso é o mesmo que usar um violão pra fazer batucada [thanks GAVETA pela analogia top ♥️]. As IAs podem sim responder perguntas - apesar de errarem muto nas respostas - mas elas foram feitas para CRIAR junto com a gente.
Isso levanta o maior fubá com um monte de piqueteiro dizendo que ela NÃO CRIA NADA. Somente “COPIA” elementos que viu no passado e desenvolve coisas novas a partir disso.
Conceitualmente, os piqueteiros estão certos.
Mas e quanto a você?
Sua criatividade é tão diferente disso?
[Cria uma treta e saia da sala]
Ainda no clube dos mais conservadores, é comum a gente ouvir o que eu chamei de "Lenda do Prompt": Os humanos é que são criativos porque bons resultados requerem maestria na produção dos prompts - os comandos que damos para a ferramenta.
Como toda ferramenta, as IAs precisam sim de nossos comandos. Mas, na moral, a sensação de quem as “pilota” hoje em dia - especialmente as criadores de imagens - é de que ELA está no controle, não você.
Veja estes dois exemplos:
A Mulher do Rio
Para criar esta imagem com uma IA chamada Midjourney, eu pedi apenas:
[/imagine: photo of a woman of rio de janeiro, kodak, 35mm]
A foto de uma mulher do Rio de Janeiro, no estilo dos filmes Kodak de 35mm.
O refinalmento de luz e contra-luz modelando o tema central, a pele castigada pelo sol, a leveza no olhar e o pezinho na macumba… Tudo isso foi “criado” pela máquina a partir deste prompt apenas. Podemos imaginar essa mulher trabalhando num quiosque na Praia da Reserva, bem distante dos estereótipos da garota de Ipanema, aliás.
A IA criou isso "sozinha". E quanto mais eu interferia, pior ficava.
A Morte do Twitter
Este outro modelo eu pedi na ocasião da morte do Twitter:
[/imagine: a dead blue bird on the ground with many people around watching stunned]
Um passarinho azul morto no chão, com muitas pessoas estarrecidas ao redor.
O passarinho não apareceu morto (temas como morte, sexo, violência ou escatologia são vetados na plataforma). Mas a lama talvez sugira a morte iminente, em um resultado até poético.
Há também erros na perspectiva: Para melhorar o enquadramento, a figura e o fundo estão posicionados em ângulos impossíveis. Mas para ela não importa - o impacto visual é excelente e poucos olhares perceberiam o erro.
Cada imagem destas levou cerca de 30 segundos para ser criada - ou gerada.
Quanto tempo você levaria?
Quantos de nós seriam capazes de fazer algo assim?
Ao que me parece, a IA já nos superou de longe neste e em outros aspcetos, mas a gente se recusa a enxergar isso porque não sabe o que fazer com a ideia de que ser “obsoleto”.
É aí que a coisa fica boa e perigosa.
Vamos encarar os fatos, meu amigo:
Se você acha que uma força poderosa como as IAs vai ser utilizada somente para o “bem da humanidade”, você é muito burro.
Até o hábito de uma freira a gente (humanos) usa como disfarce pra assaltar banco, imagine com o poder de criar coisas quase instantaneamente?!
Vamos pular a parte muito óbvia, onde os políticos bandidos vão disparar vídeos falsos com seus adversários falando todo tipo de atrocidade nas vésperas das eleições - Sim, hoje precisamos apenas de uma foto sua e 30 segundos de sua voz para criar um vídeo seu falando absolutamente tudo que eu quiser.
Vamos para uma estorinha maia trivial como eu e você:
Hoje, várias AGÊNCIAS de publicidade já trocaram seus COPYWRITERS - redatores publicitários - por Inteligências Artificiais, felizes da vida por economizar fortunas gastando apenas R$120 reais ao mês.
Tudo vai bem até que a SAPATARIA ONLINE descobre que não precisa mais de agência: Pode pedir suas campanhas de Instagram para uma IA (com texto e imagem) pagando apenas R$120 reais ao mês.
Tudo vai melhor ainda quando o FABRICANTE DE SAPATOS descobre que não precisa mais dividir seus lucros com a sapataria, pois uma IA pode gerenciar seu próprio e-commerce por apenas R$120 ao mês.
Tudo parecia incrível até que a PIZZARIA da esquina fecha as portas porque não tem mais COPYWRITERS, AGÊNCIA nem SAPATARIA pra pedir pizza.
Por fim, a coisa descamba de vez quando o GENERAL e o DESEMBARGADOR param de receber o salário porque sem essa gente toda pagando imposto, não tem mordomia pra ninguém.
Me aponte 01 destes players que esteja disposto a pagar R$3 mil ao inves de R$124 ao mês, e eu te dou um motivo para estas coisas acima não acontecerem.
As IAs aprenderam a Hacker nossas Estórias.
Além dessa esfera pragmática, há o impacto na nossa forma de pensar.
As Estórias são o meio pelo qual a gente assimila e difunde cultura pelo mundo.
Seus valores sobre casamento, infância, status social, sucesso profissional, time de futebol… tudo isso chegou até você e é transmitido para outras pessoas através de estórias de ninar, conversas de bar, filmes, livros e memes nas redes sociais.
Segundo o professor Yuval Harari - autor do best seller Sapiens - as IAs aprenderam a “hackear” nossas formas de contar estórias. Tornaram-se capazes de criar estórias de ninar, conversas de bar, filmes, livros e memes nas redes sociais de forma mais rápida e melhor do que nós mesmos. Tudo isso ao comando de qualquer pessoa que possa pagar por isso.
QUALQUER pessoa.
A Burrice Natural
Ainda segundo Harari, nada disso seria um problema se a gente investisse no combate à BURRICE HUMANA tanto quanto no desenvolvimento da Inteligência Artificial. Só que, para nosso azar, isso não parece estar acontecendo.
Há pouco tempo nos Twitter Spaces, um colega da Web3 dividia seus dilemas sobre o filho estar enganando a professora ao entregar uma redação feita pelo Chat GPT.
Após um debate quente, o consenso foi de que o pai é um GÊNIO quando paga uma fortuna de colégio para o filho tapear a professora e sair de lá incapaz de escrever um texto simples. E o filho é incrível porque mentiu e continua burro.
O pai que cobra resultado pelo investimento na educação do filho, ou integridade na relação com a professora, foi taxado como RETRÓGRADO, ao vivo num fórum público sobre inovação.
[Eita, porra! 😬 ]
Uma passagem simples como esta nos traz aos dilemas do nosso tempo:
Através da Alexa, pessoas que nunca puderam pisar num consultório de psicologia terão acesso à terapia em casa, por uma máquina com bagagem literária, experiência de trabalho e perspicácia na avaliação do comportamento como nenhum psicólogo humano poderia alcançar.
É legítimo uma máquina assumir desta maneira o lugar do psicólogo humano? É legítimo manter milhões de humanos sem acesso à terapia porque não podem pagar um psicólogo pra isso?
E, talvez, a pergunta mais importante:
Quem decide sobre qual caminho tomar, quando eu discordo de você?
A verdade, é que ninguém sabe.
Mas algumas coisas a gente já pode deduzir:
Se na escola a máquina for usada para que seu filho se torne a cada dia mais incrível,
vai ser lindo.
Mas se você acha bacana que a máquina substitua seu filho nas experiências de aprendizado, não espere que alguém o contrate para dirigir uma empresa.
É legítimo, neste caso, prefirir uma máquina melhor, mais rápida e mais barata para o serviço.
Não dorme no ponto.
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