Quebramos uma de nossas promessas primordiais. O que podemos aprender com isso?
imagem: depositphotos
Resumo
Lições importantes do mercado NFTs em 2022.
A quebra de promesa de Moonbirds ao se converter em CC0.
A política de 0% Royalties à revelia dos criadores.
O desembarque de DeGods e Y00ts da Solana como presente surpresa de natal para a comunidade.
Um dos mais belos pilares da Web3 foi também o primeiro a desmoronar na vida real.
O conceito era nada menos que fantástico:
Um mundo onde as coisas são feitas pela comunidade e para a comunidade.
Nada novo, uma vez que Sólon já tinha mandado essa letra 500 anos antes de Cristo. Só que agora era diferente pois a segurança e transparência dos contratos inteligentes nas blockchains fariam a magia acontecer.
Só que não.
(Ao menos por enquanto)
Ô 2022, fecha a conta pra nós aí, meu chegado. Pq tá na hora de partir...
Você, assim como eu, nunca se perguntou se estamos realmente preparados para essa democracia toda?
Se sim, um balanço final sobre 2022 nos traz respostas bem interessantes.
Foram muitos exemplos, mas vamos avaliar aqui apenas 3 bastante emblemáticos:
Moonbirds torna-se CC0
Em agosto de 2022, a gigante Moonbirds se converte em Creative Commons Zero (CC0). Os seus dirietos de propriedade intelectual e de todos os seus holders são delegados a domínio público. Sem qualquer consulta aos membros da comunidade, um dos seus ativos mais valiosos ruíram como num castelo de cartas.
Se você era holder de um Moonbird e estava investindo 100 mil dólares numa hamburgueria tendo a sua corujinha como tema, esquece…
Ao menor sinal de sucesso, seu concorrente poderá abrir outro igual (e com a mesma corujinha) bem em frente ao seu negócio.
Um debate muito rico e importante foi aberto na ocasião. (Um dos tesouros mais valiosos da Web3!)
Afinal o que são os direito de propriedade intelectual?
Precisamos realmente disso?
Como seria um mundo livre neste sentido?
Não há respostas certas para estas questões, mas há respostas interessantes.
Nouns DAO nasceu e se fortalece a cada dia, integralmente fundamentada em CC0. Moonbirds pretendia ampliar sua capilaridade junto ao público com essa liberdade no uso da imagem, mas sofreu uma queda de valorização no mercado depois de agosto e, até o momento, não dá sinais de recuperação contundente.
O segredo do sucesso aqui parece ser a PROMESSA: O que você prometeu à Comunidade?
Nouns disse a que veio e mantém sua palavra.
Moonbirds quebrou uma promessa sem consultar seu público. Nos mostrou que o conceito de “decidido pela comunidade para a comunidade” era, ao menos aqui, uma cantada barata.
Magic Eden com 0% Royalties
Aqui não foi a comunidade de holders quem levou a bolada nas costas, mas sim a dos creators.
Devido a pressões da concorrência no mercado, o marketplace Magic Eden impõe a política de royalties opcionais em todas as suas transações.
Na teoria, os compradores poderiam escolher se pagam ou não as comissões dos criadores nas transações de sua arte no mercado secundário. Na prática foi quase um decreto de extinção de receita recorrente para a os projetos NFT que calcavam seu negócio neste modelo de arrecadação.
Mais uma vez, um fundamento vital de uma comunidade Web3 é demolido com 01 tweet apenas, sem qualquer consulta aos seus integrantes.
Mais uma vez também, debates riquíssimos foram levantados. As conclusões é que não foram lá muito ricas. O tema acabou dividido entre 2 torcidas (Sim, torcidas. Com amor, paixões, dedo no olho e muito "vaitomanocuh":
Os PRÓ-ROYALTIES, diziam que projetos não financiados por venture capital iriam à falência, derrubando outro pilar valiosos da web3: A ausência dos Gatekeepers.
Além disso, para gerar receita recorrente novas coleções seriam despejadas continuamente no mercado, gerando efeito inflacionário pelo excesso de suply e acarretando na desvalorização crônica de todos os ativos.
Os CONTRA-ROYALTIES, diziam que a cobrança era por vezes abusiva e essa era a lei do mercado. Holders têm o direito de negociar sem pagar royalties e criadores têm o dever de se reinventar encontrando novas formas de receitas, caso contrário estariam freando a evolução.
A grosso modo, era o mercado (também chamado carinhosamente de comunidade) dizendo com todas as letras: "Olha, dá seus pulos aê porque, se a farinha é pouca, meu pirão vem primeiro”.
Chuchu beleza…
Torcidas à parte, uma lição ninguém discute: Os criadores não opinaram na decisão. Tudo foi resolvido pela direção do Magic Eden e a comunidade só entrou depois num monte de Spaces do tipo AMA:
"Ask me anything but I’m sorry".
Desembarque de DeGods e Y00ts da Solana.
Nosso último exemplo é também o que mais aperta o coração.
Solana é a blockchain com a comunidade mais valiosa de fãs. Sim, aqui a gente pode chamar de COMUNIDADE de caixa alta, pois é uma galera apaixonada que nem torcida de futebol. Tanto que, mesmo com desvalorização virtiginosa de sua criptomoeda e muita gente pulando do barco, a comunidade Solana permanece firme e fiel.
DeGods e Y00ts eram coleções de NFTS muito poderosas, tidas por muito como o coração da Solana. Tão grandes que a saída delas poderia significar a “morte" da blockchain.
Contudo, neste natal estes 2 projetos trouxeram um presente surpresa: Seu desembarque da Solana em bridges para a Ethereum e Polygon.
Foi que nem aquelas noícias de deputado votando seu próprio aumento de salário no apagar das luzes:
"Pode isso, Arnaldo?!!!"
Aqui há muitos pontos sensíveis.
A comunidade Solana é poderosa, mas a blockchain tem apresentado quedas persistentes, o que deixa aflitos os seus holders e até os próprios projetos. Migrar para outra blockchain com moeda mais estável decepcionando fãs apaixonados é realmente uma decisão difícil.
É decisão de gente grande, onde cada alternativa traz também uma perda severa.
Contudo, temos novamente aqui uma lição recorrente: Mais uma vez, não houve nenhuma consulta pública à comunidade sobre esta drástica mudança. As coisas foram decididas pela direção e comunicada ao planeta.
Foi a melhor decisão? Talvez nunca haja um acordo quanto a isso!😅
De certo a atitude foi tomada visando o melhor para os holders de cada projeto, mas não foi uma decisão colegiada e deixou bastante gente órfã.
Como o Ronaldo Fenômeno que fez juras de amor ao Flamengo a vida toda, e foi encerrar a carreira com a camisa do Corinthians.
Conclusão: Bora pegar leve no discurso bonito?
Conhecimento e experiência técnica são fundamentais para boas decisões na gestão de qualquer negócio. Inovar aqui não é abrir mão disso em função dos anseios de uma comunidade, mas sim abrir oportunidades para que ambos (comunidade e gestão) sejam mais fortes juntos.
A revolução da Web3 nos impõe a revisão de certos valores.
Alguns ficarão pelo caminho, outros sairão ainda mais fortalecidos.
A idealização romântica sobre as comunidades tem enfrentado desafios na vida na prática.
Isso é a Web3 amadurecendo.
A gestão dos negócios por comunidades é um dos mais ousados que esta revolução digital nos apresenta.
É apaixonante, mas pede equilíbrio entre conceito e aplicação. Uma equação valiosa, ainda por ser balanceada entre a vontade de um público e a experiência de um gestor.
Vamos precisar de tempo para isso.
Até lá, recalibrar as nossas promessas é um missão urgente.
Por enquanto, community driven se parece com uma utopia na qual a gente adora acreditar, como ao olhar o mundo por um filtro de Instagram.
Mas se hoje você fosse construir algo baseado em algumas verdades, eu te pergunto:
Quais seriam elas de fato?
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