O que 3.200+ patentes em NFTs nos dizem sobre o futuro da tecnologia.
imagem: midjourney
Resumo:
Pesquisa entre os pedidos de patentes revela os planos das grandes marcas para a Web3.
Experiências Phygital (mescla entre experiências digitais e IRL) são destaque.
Um resumo do que as principais marcas tem em mente para os próximos anos.
2023 registrou 14x mais Patentes relacionadas a NFTs do que 2020.
Nike, Disney, Starbucks, Google. Sony e Dell estão entre as grandes marcas investindo neste setor.
Descobri isso pela Dematerialzd | Web3 for Brands, uma das newsletter que mais gosto de acompanhar, do suíço Marc Baumann. Além de opiniões relevantes ele costuma trazer conteúdo pautado em pesquisa de mercado, o que nos ajuda a avalair o impacto real da tecnologia blockchain no mundo e seu poder no universo do branding.
Nesta semana Marc publicou uma pesquisa que fez entre + de 3 mil patentes relacionadas a NFTs e - o melhor de tudo 🤩 - nos autorizou a traduzir este conteúdo para o debate aqui em português. Desde já a gente agradece demais muito por esta oportunidade.
Bora embarcar nesse filme de espionagem?! Prepara a pipoca porque vem coisa bacana por aí.
O que são Patentes e o que elas significam?
Patentes são direitos exclusivos de Propriedade Intelectual que se concede sobre INVENÇÕES.
As Patentes são muito confundiadas com Direitos Autorais e Marcas. Você pode saber mais sobre estes dois últimos em nossos posts a respeto: Como funcionam os Creative Commons? e Seu Projeto é Marca Registrada? O registro destas invenções, por sua vez, nos servem como um tipo de "janela para o futuro", vislumbando o mundo para onde caminhamos, mesmo que muitas delas não se tornem realidade.
O Futuro é Phygital?
Vivemos um verdadeiro "boom das patentes” em 2023. Segundo a Organização Mundial da Propriedade Intelectual, as solicitações de patentes relacionadas a NFTs 2023 foi 14 vezes maior do que em 2020 e quase o dobro do registrado em 2022. A marca campeã no número de pedidos é o Bank of America, com o dobro de solicitações do segundos colocados Pay Pal e Nike. Sony, Snapchat, Shopify, e-Bay, Disney Microsoft, Salesforce e Samsung seguem logo atrás. Microsoft e Samsung nos chamam a atenção por fornecerem produtos de grande capilaridade - o sistema operacional Windows e os smartphones Galaxy - onde a tecnologia encontra chances de adoção em massa.
O “Phygital" (produtos físicos com algum desdobramento no mundo digital) parecem ser a tendência mais forte no momento segundo a análise de Marc. Marcas como Mercedes-Benz, Ferrari, Nike, Adidas e eBay estão buscando isto ativamente. É um movimento característico da frase de transição em que vivemos. Há 10 anos, as crianças queriam uma fantasia do Homem Aranha ou da Frozen para brincar com seus amigos. Hoje elas querem uma “skin" no Roblox. Quando forem adultas, o lado digital pesará bem mais do que hoje na balança entre o mundo físico, e as marcas antenas a isso agora terão um lugar importante no coração destas pessoas no futuro.
A Janela para o Futuro
Vamos dar uma espiada no futuro pelo movimento das patentes hoje? Confira detalhes interessantes que a pesquisa nos revela.
Nike
Neste ano a Nike que recebeu várias patentes detalhando planos para conectar produtos físicos a colecionáveis virtuais que desbloqueiam experiências novas ao consumidor. Em seus documentos a marca frequentemente fala sobre a "escassez controlada", algo que busca aumentar o valor dos produtos e combater a falsificação.
A compra de um par autêntico e tangível de sapatos pode permitir ou 'desbloquear' um ativo digital criptográfico correspondente e um sapato digital associado a esse ativo digital.
Segundo a pesquisa de Marc, na prática estas experiências incluem:
Loterias: Que recompensam compradores de tênis com colecionáveis digitais no aplicativo SNKRS da Nike.
Gêmeos Digitais: Onde consumidores podem comprar um calçado físico na loja e desbloquear seu colecionável digital ao conectar sua wallet ao sapato físico usando um "KickID" conectado a uma etiqueta visual ou eletrônica (RFID ou NFC);
Experiências de Realidade Virtual: Com clientes na loja, procurando tênis digitais com seus smartphones.
Co-criação e Reprodução: Em que podemos "reproduzir ou misturar" dois tênis digitais para criar um tênis "filho" único, podendo assim votar nos melhores designs, que a Nike produzirá comercialmente - Já pensou em um modelo Nike desenhado por você?;
Evoluções de Produtos: Onde usuários cuidam de produtos digitais como animais de estimação. Alimentar, limpar e entreter no melhor estilo Tamagoshi, o que desbloquearia novos atributos destes produtos em suas versões da vida real. A Nike também menciona evoluções "dinâmicas e seletivamente bloqueáveis" de produtos. O que isso quer dizer de fato, ainda não sabemos.
Experiências Token-Gated: Onde NFTs liberam benefícios extras como vendas exclusivas, ingressos antecipados e experiências virtuais ou de realidade mista.
Neste Modelo já lançado da RTFKT, ao possuir um Human Clone X, o colecionador pode mintar até 31 itens, vestindo suas roupas exclusivas, como quem torna-se o seu próprio NFT na IRL. imagem: nike | rtfkt
Web3 Commerce + Games
A Nike também planeja permitir que os usuários negociem, vendam, aluguem ou licenciem produtos digitais. Eles discutem como essas transações acontecem em um aplicativo especializado e sites de leilões para tênis. Além disso há planos para disponibilizar seus produtos digitais para jogos de vídeo. A raridade de um produto digital afetaria as habilidades de um jogador no game.
Uma saída contra a Falsificação?
A falsificação é uma dor constante das grandes marcas de vestuário e esporte . A indústria do software também sofre com isso, mas viu seus problemas diminuírem muito na era da conexão online: Um Playstation ou Photoshop crackeados não servem de nada na era das comunidades online onde se joga ou cria arte com os amigos. Certo?
Talvez o desenho de todas estas experiências digitais coletivas possam surtir o mesmo efeito contra a falsificação dos produtos físicos.
Vamos descobrir.
Adidas
A Adidas também pretende usar phygitals em seu ecossistema de marca, a princípio conectando ativos digitais a produtos físicos. Esses ativos digitais podem ser atualizados dinamicamente com base em como os consumidores os usam em um novo padrão de tokens programáveis.
Snapchat
O Snap registrou 23 patentes relacionadas a NFTs no total, 8 delas nos últimos 6 meses.
Seus últimos pedidos envolvem experiências de realidade aumentada (AR) para itens de moda NFT ou compras. Essas aplicações podem estar vinculadas ao Lens Studio, a plataforma de realidade aumentada do Snap. Os planos também incluem o uso de NFTs como avatares ou fundos em chamadas de vídeo pelos usuários .
Disney
A Disney começou na Web3 com a aboragem de "tesouros artísticos em suas versões digitais". Como se adaptasse o discurso Web3 à seus produtos. Agora ela cria suas próprias experiências utilizando a tecnologia NFT - imagem: disney e veve | divulgação
A gigante do entretenimento já flertou com a Web3 em coleções como Golden Moments e The Mickey Mouse NFT Collection, anunciando recentemente a Pinnacle: Sua nova coleção de Pins Disney em NFTs, com plataforma de vendas própria, mobile e direcionada ao público ainda não familiarizado com a Web3. Estes Pins também servirão como chave de acesso a experiencias token-gates.
Suas patentes investem em programas interoperáveis de fidelidade: Com usuários capazes de resgatar seus NFTs em diferentes empresas garantindo acesso fácil a conteúdo, eventos e outras experiências físicas e digitais.
A Disney registrou também uma patente para Jogos de Cartas baseados em NFTs com evolução de atributos - os Pokémons que se preparem! 💣
Bvlgari 💎
A Bvlgari também está experimentando produtos phygital, tendo já lançado a coleção de bolsas Serpenti Forever com "passaportes" a produtos digitais onde os proprietários rastreiem o histórico das bolsas e desbloqueiem experiências individuais.
Sony
A Sony foca em ativos digitais in-game e em torná-los compatíveis com diferentes jogos. Entre as funções incluem o rastreamento automatizado de ações em jogos e transferências de ativos entre diferentes plataformas usando NFTs.
Google 🔍
A Google por enquanto segue tímida, mas com pesados investimentos na BARD - sua Inteligência Artificial. No segmentos de blockchains as pesquisas do Marc apontam personalização do navegador e gerenciamento de transações em via blockchain.
Twitter | X
O Twitter entrou recentemente - dia 16 de novembro de 2023 - com um pedido de patente para "Associar Land NFTs com Representações Digitais de Lotes de Terra”, aparentemente visando o setor imobiliário.
Parece que "rede social"é a última coisa que tem entrado nos planos do Twitter ultimamente, não?
Dell
A Dell já patenteou um sistema para autenticar metadados associados a NFTs, focados na gestão de dados e arquivos para empresas. Em outubro de 2023 registrou um pedido para uma metodologia e sistema para validação de NFTs no mercado de corretagem.
Western Digital
A gigante dos Hard Drives fez seu pedido de patente para gerenciamento de dispositivos de armazenamento com NFTs, com o qual Marc Baumann levantou a bola: "Será que em breve veremos Hardware Wallets da Western Digital?"
Bancos
A empresa com mais registros e pedidos de patentes Web3 é… sim, um Banco. O Bank of America entra com força neste universo com, por exemplo, uma plataforma de câmbio de criptomoedas com NFTs e transferências de ativos digitais em um ambiente virtual "com base em um objeto físico”.
Outro banco, o J.P. Morgan, vai um pouco atém com "Sistemas e métodos para pagamentos sem atritos na web3 e no metaverso".
Carros
A Mercedes-Benz considera o uso de NFTs para armazenar comprovação de propriedade, direitos de uso e/ou propriedades de um veículo além de um método para cunhar e utilizar NFTs relacionados a veículos e sistema de tecnologia da informação.
A Ferrari explora um método de competição automotiva para fazer com que pelo menos um primeiro veículo de estrada real e um segundo veículo de estrada virtual corram entre si - 🤯 Não faço ideia de como funciona, mas adorei isso!
Marcas Menores
Algumas marcas menores inscreveram pedidos de patentes com frequência surpreendentemente, por isso Baumann recomenda acompanhar de perto. São elas:
Utopia Music: Uma empresa suíça de tecnologia financeira para o recebimento de direitos autrais voltada à música.
Block, Inc.: A Empresa de blockchain de Jack Dorsey, criador do Twitter e agora da Blue Sky: A rede social de protocolo aberto onde os usuários são proprietários de seu conteúdo, não o provedor do serviço.
Artema Labs, Inc: Um estúdio de criação de NFTs responsável pela primeira coleção da Fórmula 1 de automobilismo.
Mythical, Inc.: Uma empresa de jogos Web3.
Se Aprofundando com Dematerialzd
No artigo original Marc Baumann disponibiliza os links para os pedidos originais e uma planilha do Google listando todos os pedidos de patentes relacionadas a NFTs até 18 de novembro de 2023 na da Organização Mundial da Propriedade Intelectual. Ele ainda destaca em amarelo os pedidos de grandes marcas como Goldman Sachs, Coinbase, Canon, Casio, Intel, Mastercard, Meta, Salesforce, Samsung, Shopify e outros.
Vale a pena conferir e seguir Marc! ♥️
E como anda o Brasil?
Os Estados Unidos lideram em solicitações de patentes NFT, seguidos por organizações internacionais, Canadá, Europa, Coreia do Sul, Índia, Austrália e Japão.
Apesar de o mercado brasileiro ser mundialmente reconhecido pela criatividade pujante o Brasil ainda aparece tímido neste setor sem nenhuma menção na planilha da Organização Mundial da Propriedade Intelectual.
No INPI - instituto responsável pelo setor no Brasil - identifiquei um pedido da Consultoria Registra em TI, para um sistema tokenizado para gerenciamento de licitações, por exemplo.
Isso é muito pouco para o país que tem uma das maiores populações de early adopters do mundo, não?
De fato, estes dados não traduzem a realidade de fato aqui. A complexidade jurídico-tributária no Brasil torna o ambiente interno pouco receptivo para certas inovações, pois não concebe personalidades jurídicas como DAOs, por exemplo. Por isso, mesmo operando no Brasil, é mais fácil para criadores brasileiros da Web3 abrirem suas empresas em países melhor adaptados às novas modalidades tecnológicas como EUA, Emirados Árabes ou Ilhas Maurício. O que acaba mascarando não só o mapa de marcas e patentes, como o de nossas inovações tecnológicas em sim.
Conhecer os planos de grandes empresas é importante aos pequenos criadores num cenário global de inovação como a Web3, não só pelo poder das grandes empresas em mobilizar público e popularizar a adoção da tecnologia, como nas inúmeras oportunidades de negócios que surgem a partir daí.
Ao desenhar Rio Frenz, percebemos que todas as empresas que atuam no mercado Web3 enfrentam duras dificuldades culturais para a adoção de seus produtos: “Quando mencionamos os termos NFT ou Crypto, as pessoas agradecem mas desistem”- ouvi várias empresas dizendo. Por isso decidimos nos posicionar como “Cartoons for the Web3 Culture”, formando cultura através do entretenimento, pavimentando caminho onde todos devemos passar.
E você?
Como você está contribuindo para a transformação do mundo?
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